domingo, 22 de outubro de 2017

Tema de redação

A nova cara da família brasileira

Em 15 anos, número de casais com filhos caiu 11,2% no país. Relatório mostra que outros arranjos familiares vêm ganhando força

As famílias brasileiras estão se transformando. Em 15 anos, entre 1992 e 2007, o número de casais com filhos, o estereótipo da família tradicional, caiu 11,2%. A queda foi compensada pelo aumento dos novos arranjos familiares: casais sem filhos, mulheres solteiras, mães com filhos, homens solteiros e pais com filhos. Os dados fazem parte do Relatório de Desenvolvimento Humano 2010, divulgado na terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). A nova organização familiar, contudo, não se relaciona com o fato de 23% dos brasileiros temerem a violência dentro de casa.
As famílias são apontadas pelos brasileiros como principais responsáveis por ensinar os valores. A passagem desses conceitos, contudo, independe das diversas e dinâmicas estruturas familiares, pois o afeto é um ponto nevrálgico. “O ponto central é a carga de afetividade gerada pela família, que permite aos pais influência, pelo menos inicial, na formação dos valores dos filhos”, diz o estudo.

Segundo Flavio Comim, coordenador do relatório, as famílias reconstituídas vivem, em geral, com pressões adicionais. “Existem novas dificuldades a ser superadas em cada caso, como por exemplo a gravidez precoce”, afirma. No entanto, o fato de uma criança ser criada sem a presença dos pais não implica em dificuldade para transmissão dos valores. “Nossa definição de família é de uma rede de cuidados e de afeto. Se não houver isso, não adianta ser criado por pai e mãe ao lado dos irmãos”, diz.

Para a mestre em Psicologia da Infância e da Adolescência Vera Regina Miranda, outra palavra-chave determina a passagem de valores: limite. “São dois pontos importantes para o desenvolvimento e a estruturação da personalidade. O limite auxilia na socialização, e o afeto dá estrutura”, comenta. Conciliar esses aspectos é fundamental, independentemente do tipo de família.

O psicanalista e professor de Psicologia Leonardo Ferrari afirma que, embora seja positivo receber afeto, não se pode generalizar. “Quando se analisa o ser humano, vê-se mais de perto as particularidades de cada um”, diz. “Funda-mental é saber como cada um vai transformar o afeto que recebe.”

A auxiliar de serviços gerais Marisa Cosmo do Nascimento, 33 anos, cria sozinha as duas filhas, de 7 e 10 anos, desde o nascimento da caçula. “Ele disse que não teria condições de criar outra filha. Tive de escolher entre meu casamento e as minhas filhas”, conta. “Conheço famílias com pai e mãe que não são estruturadas como a minha.” Para isso, ela tem o apoio de outros membros da família. “Minhas filhas são muito apegadas ao meu irmão e ao padrinho. Buscam uma figura masculina, que corresponde ao amor delas”, diz.

As novas famílias integram a realidade brasileira de tal modo que a nova Lei de Adoção já valoriza o conceito de família estendida. A criação por avós maternos e paternos, tios e tias ou duplas de homossexuais já é aceita. “O mais importante é valorizar quem dá carinho”, diz Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Perfis estão nos carros

Virou febre. Nas ruas, se tornou comum ver adesivos colados nos carros como forma de mostrar a organização das famílias brasileiras. Observam-se desde as famílias tradicionais, com pai, mãe e filhos, até os novos arranjos que cresceram nos últimos 15 anos no Brasil, como mães ou pais solteiros que criam os filhos.

A proprietária do sebo Leituras, no Centro de Curitiba, Angelita Gomes Cardoso, afirma que, em geral, famílias tradicionais compram mais adesivos. “É difícil ver só uma mãe comprar o adesivo dela e do filho. O mais comum é levar de todos, até do avô e da avó”, relata.

Por outro lado, Angelita diz que as pessoas que não se encaixam no padrão não demonstram timidez na hora de comprar e usar os adesivos. “Me lembro de uma moça que veio aqui e pegou de uma mulher e de sua filha”, afirma a proprietária do sebo. O fato de os “bonequinhos” serem vendidos separadamente facilita e amplia o mercado do produto. “Está tudo separadinho para facilitar a montagem”, diz Angelita.

Movimento

Há um mês, seis ou sete famílias entravam diariamente no sebo para comprar os adesivos. Atualmente, o movimento diminuiu. “Nós até mudamos a forma de exposição. Antes ficava em pastas, junto com os outros adesivos. Mas, como a procura estava muito grande, nós colocamos em exposição no balcão


Fonte:http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/a-nova-cara-da-familia-brasileira-0jkvbd0x965zv14ldufuq1bny

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