quinta-feira, 16 de março de 2017

Aprendendo a escrever com os mestres filósofos - aula para o 1º ano do Médio

Hermenêutica filosófica... 


"Quando nos fazemos entender falamos sempre bem." Molière



Objetivos da aula interdisciplinar:

1) Reconhecer as características de um texto filosófico; 
2) Aplicar os princípios do raciocínio lógico ao texto;
 3) Reconhecer, no texto, raciocínios de analogia, indução e dedução; 
4) Sintetizar, através de um texto através de um texto argumentativo, suas reflexões sobre o texto; 
5) Praticar a reflexão filosófica.
Texto a ser interpretado e compreendido:

Livro VIII - A amizade - no Ética a Nicômaco
De forma que essas amizades [por utilidade] são apenas acidentais, pois a pessoa amada não é amada por ser o homem que é, mas porque proporciona algum bem ou prazer. (...) se uma das partes cessa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amá-la.
Os que são amigos por causa da utilidade separam-se quando cessa a vantagem, porque não amavam um ao outro, mas apenas o proveito.
Por conseguinte, quando o que se leva em mira é o prazer ou a utilidade, até os maus podem ser amigos uns dos outros, ou os bons podem ser amigos dos maus, ou aquele que não é bom nem mau pode ser amigo de qualquer espécie de pessoa; mas por si mesmos, só os homens bons podem ser amigos.
A amizade entre os bons, e só ela, também é invunerável à calúnia, pois não damos ouvidos facilmente às palavras de qualquer a respeito de um homem que durante muito tempo submetemos à prova.
(...) a natureza parece acima de tudo evitar o doloroso e buscar o agradável.

Mal se pode dizer, no entanto que sejam amigos porque não passam os dias juntos nem se deleitam na companhia um do outro; e estas são consideradas as maiores marcas da amizade.
Não se pode ser amigo de muitas pessoas no sentido de ter com elas uma amizade perfeita, assim como não se pode amar muitas pessoas ao mesmo tempo (pois o amor é, de certo modo, um excesso de sentimento e está na sua natureza dirigir-se a uma pessoa só); (...) com vistas na utilidade ou no prazer, é possível que muitas pessoas agradem a uma só, pois muitas pessoas são úteis ou agradáveis, e tais serviços não exigem muito tempo.
A amizade que se baseia na utilidade é própria das pessoas de espírito mercantil.
Já dissemos que o homem bom é ao mesmo tempo útil e agradável; mas um tal homem não se torna amigo de quem lhe é superior em posição, a menos que lhe seja superior também pela virtude;
(...) a amizade depende mais do amar do que ser amado, e são os que amam os seus amigos que são louvados, o amar parece ser a virtude característica dos amigos, de modo que só aqueles que amam na medida justa são amigos duradouros, e só a amizade desses resiste ao tempo.
A amizade com vistas na utilidade parece ser a que mais facilmente se forma entre contrários, como, por exemplo, entre pobre e rico, entre ignorante e letrado; porque um homem ambiciona aquilo que lhe falta e dá algo em troca.

(...)A amizade entre marido e mulher por outro lado, é a mesma que se observa na aristocracia, já que está de acordo com a virtude: o melhor recebe maior quinhão de bens e cada um recebe o que lhe compete;
A amizade de irmãos é como a de camaradas, porquanto são iguais e próximos uns dos outros pela idade; e tais pessoas, em geral, assemelham-se nos sentimentos e no caráter. E também é semelhante a esta a amizade apropriada ao governo timocrático; pois numa tal constituição o ideal é serem os cidadãos iguais e eqüitativos, e por isso o governo é assumido por turnos numa base de igualdade.
(...) embora nas tiranias mal existam a amizade e a justiça, nas democracias elas têm uma existência mais plena, pois onde há igualdade entre os cidadãos estes possuem muito em comum.
Entre marido e mulher a amizade parece existir por natureza, pois a espécie humana se inclina naturalmente a formar casais - mais do que a formar cidades, já que a família é anterior à cidade e mais necessária do que esta, e a reprodução é comum ao homem e aos animais. (...) tanto a utilidade como o prazer parecem ser encontrados nessa espécie de amizade. Pode ela, no entanto, basear-se também na virtude, se as partes são boas; pois cada uma possui a sua virtude própria, e ambas se deleitam nisso.
As queixas e censuras surgem unicamente ou principalmente nas amizades que se baseiam na utilidade, e isso está conforme ao que seria de esperar. Com efeito, os que são amigos com base na virtude anseiam por fazer bem um ao outro (pois que isso é uma marca de virtude e de amizade), e entre homens que emulam entre si nessas coisas não pode haver queixas nem disputas. Ninguém é ofendido por um homem que o ama e lhe faz bem - e, se é uma pessoa de nobres sentimentos, vinga-se fazendo bem ao outro. E o homem que supera o outro nos serviços prestados não se queixará do seu amigo, visto que obtém aquilo que tinha em vista: com efeito, cada um deles deseja o que é bomMas a amizade que se baseia na utilidade é repleta de queixas; porquanto, como cada um se utiliza do outro em seu próprio benefício, sempre querem lucrar na transação, e pensam que saíram prejudicados e censuram seus amigos porque não recebem tudo o que “necessitam e merecem”.
(...) todos os homens ou a maioria deles desejam o que é nobre mas escolhem o que é vantajoso; ora, é nobre fazer bem a um outro sem visar a qualquer compensação, mas receber benefícios é que é vantajoso.
(...) de início devemos considerar o homem por quem estamos sendo beneficiados e em que termos ele procede, a fim de aceitar o benefício nesses termos, ou então recusá-lo.
(...) se a amizade é do tipo que visa à utilidade, certamente a vantagem para o beneficiado é a medida, porquanto é ele quem solicita o serviço e o outro o ajuda na suposição de que receberá o equivalente. Destarte, a ajuda foi exatamente igual à vantagem do beneficiado, o qual, por conseguinte, deve retribuir com o equivalente do que recebeu, ou mais (pois isso seria mais nobre).
Nas amizades que se baseiam na virtude,  por outro lado, não surgem queixas, mas o propósito do benfeitor é uma espécie de medida; pois no propósito reside o elemento essencial da virtude e do caráter. (g.m.)
(...) a maioria deseja receber benefícios mas evita fazê-los, como coisa que não compensa.

Compreender texto

Tema

Tese

Problema filosofico

Movimento argumentativo

Neologismos ou palavras-chave


Segue a máxima:

"Mais vale compreender pouco do que compreender mal."France , Anatole

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"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."