quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Papo Sério - Conteúdo da Aula -18.02.08

Parte I - A atitude costumeira x atitude filosóficaAchando óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta,possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos, vivem na companhia de seus semelhantes e procuram distanciar-se dos diferentes dos quais discordam e com os quais entram em conflito, acreditamos que somos seres sociais, morais e racionais, pois regras, normas, valores, finalidades só podem ser estabelecidos por seres conscientes e dotados de raciocínio.Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral,A atitude filosóficaImaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão?Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência.Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.Parte V -A reflexão filosóficaPor isso, pouco a pouco, as perguntas da Filosofia se dirigem ao próprio pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? A Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão.A reflexão filosóficaReflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo.A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível o próprio pensamento.Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tantopor meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.A reflexão filosófica também se volta para essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações que realizamos nessas relações.A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos de perguntas ou questões:1. Por que pensamos o que pensamos,1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o quefazemos? Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos? 2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são ou não um saber verdadeiro, um conhecimento?Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como é? Por queé?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a significação ou aestrutura e a origem de todas as coisas. Já a reflexão filosófica indaga: Por quê?, O quê?, Para quê?, dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecer e agir.VII -A Filosofia não é ciênciaA Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos econceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens eformas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dosconteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico.Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dosconceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, masinterpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas dopoder. Não é história, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquantoinseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio tempo. Conhecimentodo conhecimento e da ação humanos, conhecimento da transformação temporaldos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança das formas do realou dos seres, a Filosofia sabe que está na História e que possui uma história.A origem da FilosofiaA palavra filosofiaA palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a, sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar odesempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo depessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interessescomerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para sercomprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir- não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencercompetidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar,contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo desaber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diantede nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê -la.Parte VIII-A Filosofia é gregaA Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentosque surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com arealidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram afazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e osseres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos eas ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própriarazão é capaz de conhecer-se a si mesma. Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos.O nascimento da FilosofiaOs historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Além de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a Filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, donde,cosmologia.Bibliografia: Marilena chauí, Filosofia, Série Brasil - Novo Ensino Médio, Editora Ática,São Paulo,2005.

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"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."