sábado, 1 de novembro de 2008

Ainda sobre morte e vida....

Num único dia podemos notar que a vida resume-se a um único momento: o tempo presente. não se trata de certa negação do passado ou descarte do futuro; mas com o contínuo caminhar dos segundos, num instante o agora torna-se nossa - única - eternidade. “Meu mundo, minha existência, tudo parece resumir-se neste suspiro que neste exato momento dou”, assim parece apresentar-se a nós os pensamentos indomáveis. Não há vida que suporte tal idéia, tal estilo de finitude tão paupérrimo, pois esta tem potência para sugar a importância que damos a nós mesmos em cada instante, que pode ser o único, o último, o derradeiro ensejo de uma sinfonia em seus últimos acordes. Um único dia, dizem, resume uma vida inteira. à beira da morte, à frente de fortes emoções, tudo o que foi vivido atropela nossa consciência e nos arrebata para que ajoelhemo-nos perante a brevidade desta estada detestável, fazendo-nos observar o montante de uma vida em segundos, em um piscar de olhos. Com isso, ao que parece a existência resume-se a um cisco em nosso olho. E quando nos desvencilhamos do empecilho, nada de novo há para ver, senão a repetição dos dias, todos iguais, assim como o último, num último assomo de loucura - que não valeu a pena porque não teve um objetivo inerente à sua poesia - aparente.

Thiago Henrique Abrahão

Poética morta.
Se fosse viva, o que cantaria?
O mundo é morto.
Não se iludam com seu pulsar.
é falso.
a poesia não tem mais porquês.
agora é linguagem dos poucos, nos subsolos,
em roucos gritos de denúncia.
Para nada.
poetizar não mais funciona.
É preciso gritar.
ao vácuo.
Saber que nada se ganha,
nada se pode ganhar.
os versos não mais têm rima: têm ocaso.
as rimas não mais dão ritmo: dão desespero.
por ora, valeremo-nos de espasmos.
Escritos (escassos).
Mentiras viscerais a almejar verdades universais.
por ora resistiremos ao deserto,
mas tombaremos no teor dos trópicos - do in-certo.

Antigas civilizações já reinaram, prosperaram, construiram suas raízes, conquistaram grandes espaços. depois, ruiram. a civilização egípcia, as cidades-estado gregas, o império macedônico, o mundo romano, o universo medieval, a idade moderna, os países contemporâneos, todos elevaram-se da insignificância e deixaram-nos herança inconteste. mas mesmo com a filosofia, o direito, a arquitetura, a astronomia, a história, agora jazem em nossos livros e utensílios arqueológicos, enterradas abaixo do mundo ocidental, sustentando a nossa civilização. Por mais fortes e poderosas, não venceram o tempo.
Como elas um dia o foram, nosso imperium está no auge do progresso, reinante em suas fortalezas ideológicas, capaz de tudo o que está ao seu alcance.
Conquistamos a lua, escrevemos poesias épicas, inventamos a lâmpada, o carro, a bomba atômica.
Agora estamos no topo da conseqüência da história.
Mas por quanto tempo? da mesma forma que crescemos, destruimo-nos. aos poucos assassinamos nossas próprias vidas sem razão, à guisa de intenções medíocres.
Ao afastarmos nossos medos, ganhamos medos novos. quando resolvemos problemas, outros surgem. solucionando respostas, outras perguntas vêm à tona.
Aos poucos aliamos todo o progresso concedido pelos nossos predecessores e juntamos com nossas próprias conquistas para solver os mistérios que nos rondam.
Mas por quanto tempo?, pergunto. quando extinguirmo-nos, quem nos sucederá? ontem as civilizações clássicas exigiram o universo. Hoje a exigência é nossa - a fome de progresso, de potência, de relevância. Entretanto, amanhã, não saberemos quem exigirá o poder que hoje nos cabe. talvez sejamos o último respiro da linha do tempo, a última braçada no mar da história universal. Nossas conquistas foram tantas que agora sufocam-nos, agridem-nos.
Nossas lâmpadas, navios, satélites artificiais, antibióticos, nossos instrumentos e nossos versos Não podem defender-nos da morte, do esquecimento, do fim de algo que não teve razão de início. por ora, existimos. até quando? por quanto tempo atravessaremos desertos, cortaremos as águas dos mares, singraremos a problemática dos dias? fica-se a pergunta, faltam-nos respostas plausíveis, sensatas, reais.
Fiquemos com a imaginação audaz de nós, que é o meio mais sincero para que entendamos nossa ausência de sentido, a falta de um porquê para o que somos. Escondamo-nos nos versos dos poetas, na lógica científica de nosso tempo, na sensação de destreza dos nossos ancestrais, mas não em nossas considerações medíocres sobre o que não existe consideração, sentido, senso - pois elas não darão mais do que escombros, fósseis, rastros já apagados, quando na realidade precisamos do porém da realidade para alcançar nosso contemporâneo absurdo.

Fonte -www.taedium.com.br/irremediaveis/

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Só os Deuses são perfeitos!
"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."