terça-feira, 18 de junho de 2013

Como justificar a política - A. Comte Sponville

O Homem é um animal social: só pode viver e desenvolver-se no meio dos seus semelhantes.
Mas e também um animal egoísta. (. . .) É por isso que temos necessidade da política. (...)
É que temos necessidade de um Estado. Não porque os Homens sejam bons ou justos, mas porque não o são. Não porque sejam solidários, mas para que tenham talvez uma hipótese de o serem. (...).
o que é a Política? E a gestão não violenta dos conflitos, das alianças e das relações de força – não somente entre indivíduos (como se pode ver na família ou num grupo qualquer), mas à escala de toda uma sociedade. Trata-se portanto da arte de viver em conjunto, num mesmo Estado ou numa mesma Cidade (Polis, em grego), com pessoas que não escolhemos, pelas quais não temos nenhum sentimento particular, e que, em muitos aspectos, são rivais tanto ou mesmo mais do que aliadas. (...)
Trata-se de saber quem manda e quem obedece, quem faz a lei (...). Sabemos bem que é necessário um
poder, ou vários, sabemos bem que é preciso obedecer. Mas não a qualquer um e não a qualquer preço. Queremos obedecer livremente: queremos que a poder ao qual nos submetemos, longe de abolir a nosso, 0 reforce ou o garanta. Nunca conseguimos isto completamente. Nunca lhe renunciamos completamente. E por isso que fazemos política. E por isso que continuaremos a fazê-la. Para sermos mais livres. Para sermos mais felizes. Para sermos mais fortes. Não separadamente, ou uns contra as outros, mas «todos juntos», (...).
Se a moral reinasse não teríamos necessidade de polícia, de leis, de tribunais, de forças armadas: não teríamos necessidade de Estado nem, portanto, de política!
Contar com a moral para vencer a miséria ou a exclusão é, evidentemente, deixar-se ir em histórias.
Contar com o humanitarismo em vez da política externa, com a caridade em vez da política social, e mesmo com o anti-racismo em vez da política de emigração, e, evidentemente, deixar-se ir em histórias.
Talvez preferíssemos que a moral bastasse, (...) talvez preferíssemos não ter necessidade de política.
A política não é o contrário do egoísmo (esse e o caso da moral), mas a sua expressão colectiva é conflitual: trata-se de sermos egoístas em conjunto, (...) e o mais eficazmente possível. Como? Organizando convergências de interesses, e temos aquilo a que chamamos solidariedade (diferentemente da generosidade, que, pelo contrato supõe a desinteresse). (...)
A grande tarefa do Estado é a regulação e a socialização dos egoísmos. É por isso que é necessário.
E por isso que e insubstituível. A política não é o reino da moral, do dever, do amor (. ..). É o reino das relações de força e da opinião, dos interesses e dos conflitos de interesses.
A.Comte Sponville  

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"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."