terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Alunos do 1º ano.....Para vcs...Afirmem a vida!

De como filosofar é aprender a morrer
FilosofoMichel de Montaigne
Diz Cícero que filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte. Isso, talvez, porque o estudo e a contemplação tiram a alma para fora de nós, separam-na do corpo, o que, em suma, se assemelha à morte e constitui como que um aprendizado em vista dela. Ou então é porque, de toda sabedoria e inteligência, resulta finalmente que aprendemos a não ter receio de morrer. Em verdade, ou nossa razão falha ou seu objetivo único deve ser a nossa própria satisfação, e seu trabalho tender para que vivamos bem, e com alegria, como recomenda a Sagrada Escritura [Eclesiastes 3,12: “Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida”]. Todas as opiniões propõem que o prazer é a meta da vida, mas diferem no que concerne aos meios de atingir o alvo. E, se assim não fosse, as repeliríamos de imediato, pois quem daria ouvido a alguém que apontasse a pena e o sofrimento como os objetivos da existência? A esse respeito, as dissensões entre seitas filosóficas são puro palavrório: “deixemos de lado essas sutilezas” (Sêneca); em tais discussões entra mais obstinação e picuinha do que convém à ciência tão respeitável. Mas em qualquer papel que se proponha desempenhar põe o homem um pouco de si mesmo.
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A meta de nossa existência é a morte; é este o nosso objetivo fatal. Se nos apavora, como poderemos dar um passo à frente sem tremer? O remédio do homem vulgar consiste em não pensar na morte. Mas quanta estupidez será precisa para uma tal cegueira? “Por que não coloca o freio no rabo do asno, já que meteu na cabeça andar de costas?” (Lucrécio). Não há como estranhar que caia tantas vezes na armadilha. As pessoas se apavoram simplesmente com lhe ouvir o nome: a morte! E persignam-se como se ouvissem falar no diabo. E, como ela é mencionada nos testamentos, só resolvem fazer o seu quando o médico os condenou. E Deus sabe em que estado de espírito se encontram então, sob o impacto da dor e do pavor.
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Se a morte fosse um inimigo suscetível de se evitar, aconselharia agir diante dela como um covarde diante do perigo; mas, em não sendo isso verdade, e atingindo ela infalivelmente os fugitivos, covardes ou valentes, “persegue o homem em sua fuga e não poupa nem mesmo a tímida juventude que tenta escapar-lhe” (Horácio); como nenhuma couraça nos protege contra ela, “cobri-vos de ferro e bronze, a morte vos atingirá sob a armadura” (idem), aprendamos a esperá-la de pé firme e a lutar. Para começar a despojá-la da vantagem maior de que dispõe contra nós, tomemos o caminho inverso ao habitual. Tiremos dela o que tem de estranho; habituemo-nos a ela, não pensemos em outra coisa; tenhamo-la a todo instante presente em nosso pensamento e sob todas as formas. Ao tropeço de um cavalo, à queda de uma telha, à menor picada de alfinete, digamos: “se fosse a morte!”, e esforcemo-nos em reagir contra a apreensão que uma tal reflexão pode provocar. Em meio às festas e aos divertimentos, lembremo-nos sem cessar de que somos mortais, e não nos entreguemos tão inteiramente ao prazer que não nos sobre tempo para recordar que de mil maneiras nossa alegria pode acabar na morte, nem em quantas circunstâncias ela sobrevém inopinadamente. É o que faziam os egípcios quando, em seus festivais e voltados aos prazeres da mesa, mandavam trazer um esqueleto humano para rememorar aos convivas a fragilidade de sua vida: “Pensa que cada dia é teu último dia, e aceitarás com gratidão aquele que não mais esperavas” (idem).
Não sabemos onde a morte nos aguarda, esperemo-la em toda parte. Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer desaprendeu a servir; nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal; saber morrer nos exime de toda sujeição e constrangimento. 
Se quiserem ler na integra>http://ateus.net/artigos/filosofia/de-como-filosofar-e-aprender-a-morrer/

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"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."