domingo, 9 de outubro de 2016

Exercicio de treino para o ENEM 2016

Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Instituto Federal - PE - 2012
 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

11. A origem da filosofia pode ser situada entre os séculos VI e V a.C. Considera-se que, nessa época, as palavras filosofia e filósofo não existiam e só depois passam a significar uma forma de postura e de leitura do mundo diferentes da que existia: a compreensão mítica. Assim, o ponto de partida da reflexão filosófica pode ser identificado a partir das pesquisas dos milésios Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Eles se detiveram na compreensão da realidade a partir de um conceito-chave, a saber:
a) Aletheia
b) Physis
c) Cosmos
d) Uno
e) Sóphos

12. Segundo Jean Pierre Vernant, "fornecer a razão de um fenômeno não pode mais consistir em nomear o seu pai e sua mãe, em estabelecer a sua filiação. Se as realidades naturais apresentam uma ordem regular, não pode ser porque, um belo dia, o deus soberano, ao fim de seus combates, impôs-se às outras divindades como um monarca que reparte em seu reino os encargos, as funções, como uma lei imanente à natureza e presidindo, desde a origem à sua ordenação". Essa afirmação se refere à passagem do(a)
a) Mito para a Filosofia.
b) Caos ao Cosmos.
c) Teogonia para a Epistéme.
d) Filosofia ao Mito.
e) Physis à Aletheia.

13. A clássica passagem do Livro VII de A República é conhecida como Alegoria da Caverna. Essa alegoria comporta diversas significações, entre as possíveis encontra-se aquela que afirma que Platão discorre sobre a essência da Pólis e da Verdade. A questão da Verdade liga-se fundamentalmente à Sophia, Sabedoria. Ela supõe, na Alegoria da Caverna, uma determinada interpretação do homem e da cidade e tem como objetivo torná-lo apto ao desenvolvimento do caráter virtuoso. Nesse sentido:
a) A verdade surge como uma necessidade política e a ordem da cidade mantem-se na oratória e no discurso público dos sofistas.
b) A diferença entre a produção filosófica da Pólis Grega e das ilhas de Mileto, onde os primeiros filósofos começaram a investigar a essência (Physis) das coisas.
c) A diferença entre estar no interior da caverna e estar no mundo exterior significa uma diferença de sabedoria: "maneira de aí reconhecer-se".
d) A caverna representa a escola tradicional, cujo modelo pedagógico apenas reproduz as imagens do mundo exterior, não encontrando a verdadeira essência da realidade e da virtude.
e) A essência da Pólis está assentada na política e na narrativa cosmogônica. A caverna é o princípio do rompimento com a reprodução técnica da sabedoria empreendida pelos sofistas.

14. Um dos princípios para o despertar do pensamento filosófico, para Platão, é a admiração, ou seja, espantar-se com o óbvio, para não o aceitar em sua dada "naturalidade". Platão, assim, institui a condição virtuosa, no qual o filósofo pode problematizar e refletir sobre as verdades dadas. Segundo a influência socrática no pensamento de Platão, é correto considerar que "admirar-se como chamamento à reflexão" é:
a) Objetificar a radicalidade da admiração como um corpo de conhecimentos já construídos e dados pela experiência humana de pensar sobre si mesma.
b) Considerar o próprio pensamento como fonte inesgotável de especulação e colocar-se fora da realidade, como um outro de si mesmo.
c) Mergulhar na individualidade do pensamento e edificar a admiração como o princípio da distinção entre a realidade e a reflexão.
d) Separar a postura reflexiva daquilo que é o conhecimento natural das coisas e colocar em questão a realidade do mundo.
e) Retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado e voltar para si mesmo e colocar-se em questão do que já se conhece.

15. É comum considerar o despertar do pensamento filosófico a partir de uma virada na forma de compreender o mundo. O mito já não abarcava toda a ansiedade humana por respostas que correspondessem às circunstâncias que lhe descortinavam ao povo grego. O chamado milagre grego é o surgimento da filosofia em sua característica fundamental, a reflexão, o querer saber a essência e a verdade de alguma coisa. Desse modo, o locus da filosofia é a Grécia e a longa tradição política no qual foi formada. Incorporando essa nova forma de pensamento, Platão, em A República, sugere que, para o bom governo da cidade, o seu líder deve ser:
a) O magistrado
b) O filósofo rei
c) O sábio sofista
d) O rei sábio
e) O sacerdote

16. A tradição define a arte como a imitação da natureza. A noção de imitação pode receber um sentido mais depreciativo ou mais valorizado. Platão define uma noção de imitação de maneira mais depreciativa. Essa noção se dá pelo conceito de
a) Aisthesis.
b) Physis.
c) Paideia.
d) Mimesis.
e) Dike.

17. Nos primeiros séculos do Cristianismo, antes dos editos imperiais que a tornaram religião aceita e, posteriormente, religião oficial do Império Romano, uma das preocupações dos teólogos era o respaldo intelectual que a doutrina revelada por Jesus Cristo carecia frente à filosofia grega. Justino busca encontrar pontos comuns aos cristãos e aos gregos. A defesa do Cristianismo se desenvolve, em Justino, sob duas linhas complementares: de uma parte, ele ressalta os pontos em comum, que fazem da filosofia e do Cristianismo dois aliados na luta da razão contra o politeísmo tradicional; de outra parte, ele tenta mostrar que a doutrina cristã é superior a todas as outras. O conceito dessa "comunhão" fundamental é o LOGOS.
Compreende-se, a partir da assertiva acima, que:
a) Os cristãos se aproximam da especulação dos filósofos clássicos por que mergulham no campo da narrativa e da poética.
b) Os filósofos gregos não alcançaram a verdade do Logos, enquanto os filósofos cristãos a encarnaram pela fé.
c) A verdade humana não é alcançada pela razão. A fé é a condição necessária para a razão e para a prática da justiça.
d) Sócrates e os cristãos travam a mesma batalha em defesa da justiça e da verdade, considerando-as verdades sublimes.
e) Os filósofos gregos compreenderam a verdade da razão pela concepção de um Logos que se encarnaria no próprio ser humano.

18. A doutrina justiniana do Logos manifesta, o grande esforço de englobar a história do helenismo e do judaísmo no cristianismo e, por conseguinte, de dar uma justificativa à sua pretensão de ser uma religião de todo o mundo. O que Justino apresentou como característica central de seu pensamento filosófico foi:
a) O agir de Deus na história constitui o grande tema da doutrina justiniana do Logos.
b) A filosofia helênica não compreendeu a verdadeira essência da reflexão sobre a Physis e, por isso, o platonismo pode se desenvolver.
c) O Judaísmo não havia se preocupado em estabelecer uma ligação histórica com a profecia da qual era herdeiro.
d) Os Platônicos se afastaram das imagens confusas sobre a descrição da Physis por meio do mundo das ideias.
e) Os gregos não desenvolveram uma narrativa religiosa que fosse verdadeiramente capaz de englobar o sentido da vida humana.

19. Uma das questões filosóficas da Escolástica é o argumento racional sobre a existência de Deus. Um ponto se tornou central nesse aspecto: o homem sensato é o que reconhece Deus e sua magnitude. O insensato, ao contrário, diz a si mesmo: Deus não existe. Santo Anselmo explicita essa afirmação, a partir de seu argumento ontológico: Deus é algo tal, que nada maior pode ser pensado. Esse algo é tão verdadeiro para Anselmo, que não é possível pensar no seu não ser. O objeto do pensamento ontológico de Anselmo
a) é a relação entre a fé e a razão explicadas a partir da prova ontológica que os Apologetas Cristãos haviam legado ao ocidente.
b) é o ser e sua verdade em contra partida à ideia de não ser que pairava no pensamento cristão. O cristianismo refutava a sabedoria filosófica grega por meio do argumento da fé e da revelação.
c) não é o ser, nem a ideia do ser, é a grandeza ou o máximo da perfeição. É a relação entre o pensamento e a perfeição concebida em termos de máximo concebível pela razão.
d) é a fundamentação a partir da consciência de movimento e transitoriedade que a explicação de Aristóteles, por meio da metáfora do Motor Imóvel, demonstrou.
e) tratava de propor o argumento da existência de Deus, sem que pudesse haver um intermediário entre o próprio Deus e o mundo que o anuncia.

20. A grande figura da escola vitoriana, no século XII, é Hugo de São Vitor. Um ponto importante da obra desse pensador cristão é a questão da justiça. A justiça de que Hugo fala é a justiça divina com suas categorias próprias. Destacam-se, delas, a justificação e a salvação, a que Lutero chamará a atenção alguns séculos depois. A justiça, assim, não é interpretada no sentido grego, mas a partir do pensamento cristão e fundamentou a reflexão moral dos séculos seguintes, até a retomada desse problema por Kant. Com base nesse pressuposto, como entender que Deus é justo ao punir os maus, segundo o pensamento cristão de Hugo de São Vitor? Como compreender que Deus permaneça justo ao perdoar-lhes? A resposta a esse questionamento está indicada na alternativa:
a) Deus é justo ao agir, ele é justo por si mesmo, pois seus atos são conforme sua essência; em contrapartida, o pecador é justo por outro, não por sua natureza, mas pela graça de Deus é que ele é justificado.
b) Deus age por si, enquanto o ser humano age pelo outro, mediante o conhecimento que tem da sua ação. Desse modo, Deus permanece justo porque perdoa a ação injusta do ser humano, sem que isso interfira em sua natureza eterna de Justiça.
c) Os atos de Deus correspondem à sua essência divina. O ser humano, ao contrário, é sempre contrário à sua própria natureza. Ele precisa da graça para ser moral. A Graça de Deus é o que faz com que o ser humano encontre o verdadeiro sentido da justiça e rompa a ligação com sua natureza.
d) Deus permanece justo porque ele não pode contradizer a si mesmo. Se Deus perdoa os justos, ele o faz porque sua essência é a justiça. O ser humano é injusto, portanto, sua natureza é contrária à graça que recebe, assim, o perdão de Deus é o sentido moral que o ser humano não consegue compreender.
e) O mérito da justiça está no reconhecimento da punição que é destinada ao infrator. O perdão que Deus concede é para mostrar ao ser humano o castigo que lhe sobreviria e, pela graça, foi revogado. Assim, Deus permanece justo porque não se envolve com a injustiça humana, mas a perdoa pela graça.

21. Um dos pontos fundamentais do pensamento moral que Sartre impõe ao seu discurso, transcrito como obra e intitulada O existencialismo é um humanismo, é o conceito de responsabilidade. Assim, ele afirma: "Se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que ele é. O primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência?. Essa afirmação ecoa a postura ontológica que o autor assume em relação à condição humana, a saber:
a) Não há determinação. O ser humano é pura liberdade e não pode pensar a negação dessa verdade e tampouco assumir uma postura contra a liberdade.
b) Não há essência humana. O ser humano é antes de tudo um impulso para a natureza.
c) Não há Deus. O ser humano existe sem que possa haver um conceito sobre a sua condição existencial.
d) Não há inteligibilidade. O cogito não compreende a experiência existencial de viver no mundo como ser-no-mundo.
e) Não há natureza humana. O ser humano se concebe e concebe o modo como realiza as suas escolhas no mundo.

22. A relação de Tertuliano com a Filosofia, ao contrário da que Justino estabeleceu, mostra-se hostil em relação ao pensamento helênico. Enquanto alguns Apologetas Gregos acreditavam terem conseguido trilhar um caminho de conciliação entre a fé e a Filosofia, Tertuliano não é muito favorável a essa postura. Para ele, o cristão, ao contrário do sábio grego, pode manifestar a verdade do seu discurso por meio de sua postura, comunicando com a vida a essência da verdade que o orienta: Deus. Assim, para Tertuliano, a especulação grega visava apenas ao conhecimento, enquanto o cristianismo, à conversão. A Filosofia era, portanto, impotente para ascender o humano ao Logos. A questão central desta crítica de Tertuliano é que
a) a Filosofia está fundada na tradição dos homens da Grécia e não nos homens de Jerusalém, que é o centro do mundo, por isso o seu conhecimento é vão.
b) a Filosofia não pode chegar à verdade, porque é movida pela admiração e pela diversidade de explicações, e não pela revelação cristã do Verbo Eterno.
c) a atividade filosófica encontra o Logos, mas não o identifica nas pessoas, porque o Platonismo afastou a filosofia da realidade.
d) a gnose cristã está fundamentada na gnose helênica e tem seus pontos de coincidência no pensamento especulativo grego.
e) Atenas, que era a cidade símbolo da sabedoria profana, e os sofistas, os seus maiores representantes, corromperam a doutrina do Logos e a afastaram de sua verdade.

23. Em relação à descrição fenomenológica do Nada, na obra O Ser e o Nada, Sartre parte da definição da consciência. Essa definição é inspirada a partir do pensamento de Hurssel. Para Hurssel, toda consciência é consciência de alguma coisa. Sartre insere na proposição hursseliana o conceito de revelação e afirma que a consciência de algo é, ao mesmo tempo, revelação desse algo e revelação de si mesma como consciência. O Nada, nesse sentido,é compreendido, portanto, como:
a) O não ser do humano que extrapola a especulação e alcança o verdadeiro sentido da precedência da existência sobre a essência.
b) A determinação limite do pensamento naquilo que não pode alcançar pelo fenômeno.
c) O conceito metafísico no qual se compreende a esfera do pensamento e, fora dele, a impossibilidade de se compreender a realidade.
d) O limite que estabelece a liberdade como condição irredutível do ser humano.
e) O conceito que explica a realidade humana como condição de ser livre e suportar essa liberdade em seu ser.

24. O método fenomenológico de Edmund Husserl definiu um conceito que se tornou fundamental para a crítica à orientação natural da compreensão do mundo. Esse conceito Husserl denominou como Époche, suspensão. Assumindo que a consciência é sempre consciência de alguma coisa e, por essa característica fundamental, pode-se suspender a orientação natural, a visão objetiva do mundo; a fenomenologia husserliana, nesse sentido,
a) defende que o ser humano define a verdade do mundo, abstraindo-o das ilusões e dos erros.
b) defende que o ser humano impõe um sentido ao mundo, compreendendo-o e introduzindo-se nele por esse sentido.
c) defende que o ser humano compreende a essência do mundo, definindo a essência das coisas mediante a sua existência.
d) defende que o ser humano suspende toda a construção de sentido subjetivo, afirmando a objetividade do mundo.
e) defende que o ser humano esquematiza o mundo pela dúvida cartesiana, suspendendo os juízos e estabelecendo a certeza como critério.

25. O objeto da atividade estética é o belo, assim como o da ética é o bom, o da religião é o sagrado,... O artista, quando faz uma obra de arte, propõe-se, antes de tudo, a dar uma expressão sensível à beleza. Sobre o Telos artístico, compreende-se que ele encerra, na visão cristã, sentidos:
a) Naturalista, moral e mimético
b) Litúrgico, metafísico e naturalista
c) Pedagógico, litúrgico e catártico
d) Pedagógico, catártico e físico
e) Litúrgico, pedagógico e naturalista

26. Marilena Chauí, em mais de um dos seus livros, problematiza as várias definições gerais conhecidas do que é a Filosofia. A partir da análise crítica que a autora faz dessas definições, conclui-se - em relação ao pensamento filosófico e suas características - que a única afirmação abaixo aceitável é a de que
a) a Filosofia é fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas e ocupa-se com os princípios, causas e condições de alguma coisa.
b) a Filosofia é uma disciplina teórica capaz de abranger a totalidade dos conhecimentos, ou o conhecimento total do Universo.
c) a Filosofia configura-se como compreensão do Universo, como uma totalidade ordenada e dotada de sentido.
d) a Filosofia trata-se de um conjunto de ideias, valores e práticas que constitui a visão de mundo de um povo.
e) a Filosofia é uma escola de vida ou uma arte do bem viver, ensinando-nos o domínio sobre nossos impulsos, desejos e paixões.

27. Nietzsche, tanto na obra A gaia ciência, onde escreve sobre os equívocos que marcaram a educação do homem, quanto na obra Schopenhauer como educador, em que examina o ensino da Filosofia para jovens nas escolas alemãs em seu tempo, leva-nos à compreensão de que nem toda educação e filosofia possuem, de fato, um caráter formativo para uma cidadania ativa. Assim, podemos identificar uma filosofia e uma educação voltadas para a subjetivação ou, ao contrário, comprometidas com a singularização. Assinale a alternativa que caracteriza e/ou distingue essas duas perspectivas.
a) Uma Filosofia e uma educação voltadas para a subjetivação enfatizam a postura individualista em detrimento da comunitariedade; enquanto as que se situam no contexto da singularização, acabam por promover a reprodução e a passividade.
b) Uma Filosofia e uma educação a serviço da singularização voltam-se para a construção de um homem universal; enquanto as que se colocam a serviço da subjetivação, atentas ao anseio da subjetividade, buscam focar no homem como ser concreto, abstraindo a natureza humana.
c) Uma Filosofia e uma educação que assumem a perspectiva da singularização entendem o ensino da Filosofia na formação dos jovens, como um ensino que se foca na história da filosofia, qualificando o indivíduo para a realização de exames; enquanto as que assumem a perspectiva da subjetivação, compreendem o ensino da Filosofia como exercício ou experiência filosófica.
d) Uma Filosofia e uma educação na perspectiva da singularização voltam-se para a vida, para o cotidiano, para pensar aquilo que nos incomoda diretamente; enquanto, na perspectiva da subjetivação, remetem ao transcendente, sempre em busca do uno e do universal, o que condiciona, por exemplo, a concepção de homem a elas subjacente.
e) Uma Filosofia e uma educação voltadas para a singularização estão aptas a contribuir para a constituição de indivíduos incapazes de pensar e decidir por si mesmos; enquanto as que se voltam para a subjetivação, colaboram para a constituição de subjetividades livres, criativas e autônomas.

28. "... a hermenêutica é uma outra racionalidade, em que o fundamento da verdade não está nos dados empíricos nem na verdade absoluta; antes disso, é uma racionalidade que conduz à verdade pelas condições humanas do discurso e da linguagem". Considerando a afirmação acima e os seus conhecimentos sobre hermenêutica filosófica, é correto concluir que a experiência educativa, enquanto hermenêutica,
a) assume a perspectiva do olhar objetivador, seja na versão behaviorista, tecnicista ou construtivista, deixando escapar a experiência dos atores envolvidos no processo e, por conseguinte, empobrecendo a experiência formativa.
b) exige a exposição ao risco, às situações abertas e inesperadas, coincidindo com a impossibilidade de assegurar a tais práticas educativas uma estrutura estável, que garanta o êxito da ação interventiva.
c) não reconhece a fecundidade da experiência do estranhamento ou de ruptura com a situação habitual, como exigência para penetrar no processo compreensivo, por entender que a quebra da regularidade metódica compromete a cientificidade do processo educativo.
d) segue o caminho do ideal metafísico do conhecimento, como descrição de estruturas objetivamente dadas, assumindo a universalidade e a objetividade que conferem veracidade à descrição estrutural do sujeito.
e) compreende que o mundo se torna legível pela análise dos fatos, o que permite chegar à essência dos processos educativos e, consequentemente, identificar um método decisivo para verificação de sua eficácia.

29. O exercício do filosofar, no Ensino Médio, cumpre, entre vários outros objetivos, o de ajudar os adolescentes a desenvolverem a capacidade de organização lógica do raciocínio, buscando qualificá-lo, inclusive, para a investigação da validade dos argumentos que a eles se apresentam. Assim, a iniciação à lógica formal, através dos exercícios de identificação dos tipos básicos de argumentação logicamente válidos e de análise de discursos falaciosos, colabora com os jovens no desenvolvimento de competências fundamentais. Analise os discursos abaixo, verificando se se tratam de exemplos de raciocínio dedutivo ou indutivo (logicamente válidos), ou se se tratam de falácias ou sofismas.
I. "Parece que a vontade de Deus é variável, pois o Senhor disse (Gen 6, 7): Por que me arrependo de ter feito o homem. Mas quem se arrepende do que fez tem uma vontade variável. Portanto, Deus tem uma vontade variável".
II. "Nota-se, pela situação do país, pelos hábitos do povo, pela experiência que temos tido sobre esse ponto, que é impraticável levantar qualquer soma muito considerável pela tributação direta. As leis fiscais têm-se multiplicado em vão; novos métodos para aplicar a arrecadação foram tentados inutilmente; a expectativa pública tem sido uniformemente desapontada e as tesourarias estaduais continuam vazias".
III. "O cigarro faz mal à saúde, porque faz mal ao organismo".
IV. "O fim de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a morte é a perfeição da vida".
V. "Você está lendo um livro e observa que muitas palavras oxítonas terminadas em "i" ou "u" tônicos ora vêm acentuadas ora não. Confrontando-as, verifica que o "i" e o "u" dessas palavras oxítonas só levam acento quando precedidos por uma vogal. Qual é o raciocínio que leva a essa conclusão?"
VI. "Você, como estudante do Ensino Médio, deveria preocupar-se em desenvolver o raciocínio lógico e a capacidade de leitura e interpretação de texto".
A alternativa correta é:
a) Os itens II e V são exemplos de dedução logicamente válida; os itens I e VI são exemplos de indução; e os itens III e IV trata-se de falácias, sendo, respectivamente, exemplos de premissas contraditórias e de equívoco.
b) Os itens I, IV e VI são exemplos de dedução logicamente válida; os itens II e V são exemplos de indução; e o item III é uma falácia e trata de um exemplo de ignorância da questão.
c) Os itens I, IV e VI são exemplos de dedução logicamente válida; o item III trata-se de raciocínio indutivo; e os itens II e V são discursos falaciosos, sendo um exemplo de ignorância de causa e o outro de generalização apressada.
d) Os itens I e VI são exemplos de dedução logicamente válida; os itens II e V são exemplos de indução; e os itens III e IV tratam-se de falácias, sendo, respectivamente, exemplos de petição de princípio e de equívoco.
e) Os itens I, IV e VI são exemplos de dedução logicamente válida; os itens II, III e V são exemplos de indução; e não há nenhum item que seja exemplo de falácia entre os discursos acima enumerados.

30. Considerando a afirmação: "Todos os agrotóxicos são produtos químicos", é logicamente correto concluir que
a) alguns agrotóxicos não são produtos químicos.
b) alguns produtos químicos são prejudiciais à saúde.
c) alguns agrotóxicos são prejudiciais à saúde.
d) todo produto químico é prejudicial à saúde.
e) alguns produtos químicos não são prejudiciais à saúde.

31. A modernidade emerge, no século XVII, elegendo, como uma de suas grandes questões, o problema do conhecimento. Duas correntes destacam-se, com suas teorizações: o racionalismo cartesiano e o empirismo.
O que é diferença e o que é semelhança entre essas duas linhas teóricas?
A alternativa correta é:
a) Se, por um lado, racionalismo e empirismo assemelham-se na defesa da necessidade do método científico, cada um defendendo o seu; por outro lado, enquanto o empirismo nega toda diferença substancial entre conhecimento sensível e inteligível, o racionalismo atribui valor absoluto ao conhecimento racional, menosprezando a observação e a experiência como miragem.
b) Se, por um lado, racionalismo e empirismo semelhantemente negam a metafísica; por outro lado, enquanto o empirismo defende o sujeito como critério da verdade, desfazendo-se do que o transcende, o racionalismo, preso à tradição católica, afirma Deus como instância última das ideias claras e distintas.
c) Se, por um lado, o racionalismo, diferentemente do empirismo, guia-se por um otimismo fundamental com respeito à natureza humana e à capacidade humana de conhecer e agir; por outro lado, assemelham-se na valorização da ciência, naturalmente que o empirismo enfatizando as ciências naturais e o cartesianismo as ciências exatas.
d) Se, por um lado, racionalismo e empirismo assumem posições contrárias no que se refere à tese das ideias inatas; por outro lado, ambas as correntes rechaçam igualmente a tese da metafísica clássica que afirma existir uma diferença substancial entre conhecimento sensível e conhecimento inteligível.
e) Se, por um lado, racionalismo e empirismo concordam que todo conhecimento das coisas proveniente só do entendimento puro não passa de ilusão; por outro lado, enquanto o empirismo exalta o método experimental, o cartesianismo preconiza, unicamente, o método de origem matemática.

32. Francis Bacon é uma das fortes presenças no momento inaugural da filosofia e da ciência modernas. Segundo ele, o verdadeiro objetivo da ciência (do saber) é o conhecimento das "formas" da natureza. Mas, o que, em Bacon, significa conhecer as "formas" das várias coisas (ou "naturezas")? Bacon articula a sua explicação a partir da adoção de dois novos conceitos: processo latente e esquematismo latente. Isso significa, portanto,
a) reconhecer como realidade natural apenas o que se enquadra nas formas a priori da sensibilidade.
b) identificar o princípio de ordem imaterial que determina a matéria.
c) inteligir o ser ou a essência que faz uma coisa ser o que ela é.
d) captar a coisa e articulá-la a partir das formas a priori do entendimento.
e) compreender a estrutura de um fenômeno e a lei que regula o seu processo.

33. A concepção kantiana do homem é edificada a partir de dois planos epistemológicos distintos, um apriórico e outro empírico. Analise as afirmações abaixo, buscando identificar - entre aquelas que são coerentes com o pensamento kantiano - as que são pertinentes à vertente pragmática de sua antropologia.
I. O homem é um "ser mundano", condicionado pela realidade circundante e interpelado, como ser consciente, a caminhar na direção da racionalidade, ou seja, da liberdade.
II. Pela teoria, o homem pertence ao mundo sensível, dominado pelo mecanicismo natural; e, pela práxis, ao reino dos fins, que é o mundo da moralidade.
III. O homem só consegue cultivar-se a si mesmo (para ser homem) através de relações sociais.
IV. A "humanidade" do homem não é um fato, mas o fruto de uma luta: ele deve tornar-se merecedor da dignidade, do ser pessoal. Por isso ele é o único que precisa ser educado.
V. A humanização do homem significa a saída do mundo fenomenal e descoberta da liberdade como subjetividade pura.
VI. O seu ser é um projeto. Daí que a passagem da racionalidade potencial para uma racionalidade atual se faz através do processo histórico.
VII. O homem é aquele para o qual e mediante o qual o mundo - como objeto do qual falamos e fazemos afirmações - existe.
A alternativa correta é:
a) Apenas a afirmação IV é coerente com o pensamento kantiano e com a vertente pragmática de sua antropologia.
b) As afirmações I, III, IV e VI são coerentes com o pensamento kantiano e com a vertente pragmática de sua antropologia.
c) As afirmações I, III e VI não condizem com o pensamento kantiano e com sua antropologia pragmática.
d) As afirmações II, V e VII são kantianas e são pertinentes à sua antropologia pragmática.
e) As afirmações V e VII não são coerentes com o pensamento kantiano, mas são pertinentes à abordagem pragmática de sua antropologia.

34. A visão clássica do homem traz, em seu bojo, uma riqueza de múltiplas formas de expressão, entre as quais merece destaque a concepção antropológica presente na obra de Aristóteles. Um dos traços da antropologia aristotélica, que é essencial para que se tenha uma visão integral de sua concepção de homem, é
a) a estrutura do homem como reflexo da estrutura triádica da realidade superior (Uno - Inteligência - Alma), na qual o homem está inserido, concepção que se assenta no dualismo finalista da alma voltada para o inteligível ou para o corpo.
b) a teleologia do bem e do melhor, como via de acesso para a compreensão do mundo e do homem, e sobre a qual se funda a natureza ética da psyché.
c) a centralidade do problema do indivíduo, tratando-se de definir as condições de seu "viver feliz" (eudaimonia), e entre estas obtêm primazia aquelas que tomam o indivíduo como independente ou asseguram-lhe o senhorio de si mesmo (autárkeia).
d) o homem como ser de paixão e de desejo, traço presente tanto na descrição da estrutura da psyché, sede das paixões e do desejo, como na especificação de sua atividade, pois a vertente "irracional" da psyché intervém tanto na práxis ética e política, como na poíesis.
e) a unidade radical do ser do homem pensada numa perspectiva soteriológica, que se desdobra em três momentos articulados como momentos de uma história e de um itinerário da mente e da vontade.

35. Leia o texto abaixo, de autoria de Karl Marx.
"O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluído o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto ou de percepção, mas não como atividade humana sensível, como práxis, não subjetivamente. Eis porque ocorreu que o aspecto ativo, em oposição ao materialismo, foi desenvolvido pelo idealismo - mas apenas abstratamente, pois o idealismo, naturalmente, desconhece a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis - realmente distintos dos objetos do pensamento, mas não apreende a própria atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em A essência do cristianismo, considera apenas o comportamento teórico como o autenticamente humano, enquanto que a práxis só é apreendida e fixada em sua forma fenomênica judaica e suja. Eis porque não compreende a importância da atividade "revolucionária", "prático-crítica".
De acordo com essa tese de Marx, não é correto afirmar que
a) o filósofo Feuerbach revela um desprezo pela prática (dissocia teoria e prática), defendendo que o caminho para a revolução é a via teórica. Ele almeja a transformação intelectual.
b) a subjetividade é a força que move a realidade, e esta não é só o que se apresenta aos nossos sentidos, mas é também resultado do trabalho humano.
c) o idealismo supera o realismo ingênuo do materialismo tradicional, mas cai no erro de reduzir a realidade do conhecimento a resultado da atividade do pensamento.
d) o filósofo Feuerbach ignora o avanço operado pelo idealismo de conceber o objeto do conhecimento como resultado da atividade (ainda que do pensamento), e retorna à concepção do materialismo tradicional anterior.
e) a filosofia/ideologia alemã (Kant/Hegel) não concebe a realidade do conhecimento como resultado da atividade humana, mas tão-somente sob a forma da percepção.

36. "Agora que tentei determinar, tão exatamente quanto pude, nesta primeira visão geral, todo o espírito dum curso de filosofia positiva, creio dever, para imprimir a este quadro todo seu caráter, assinalar rapidamente as principais vantagens gerais que pode ter esse trabalho, se as condições essenciais forem convenientemente preenchidas, quanto ao progresso do espírito humano. Reduzirei esta última ordem de considerações à indicação de quatro propriedades fundamentais". Considerando as teses defendidas por Comte em seu Curso de filosofia positiva, aponte a proposição, entre as indicadas abaixo, que não compõe esse quarteto ao qual ele se refere.
a) O estudo especial das generalidades científicas se destina a contribuir para o progresso particular das diversas ciências positivas.
b) O estudo da Filosofia positiva fornece-nos o único verdadeiro meio racional de pôr em evidência as leis lógicas do espírito humano.
c) A Filosofia positiva, cujo caráter está em tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais, tem o compromisso de expor as causas geradoras dos mesmos.
d) Com seu estabelecimento, a Filosofia positiva está destinada a presidir, consequentemente, à reforma geral de nosso sistema de educação.
e) A Filosofia positiva tem como propriedade fundamental a reorganização social, que deve terminar a crise na qual se encontram as nações mais civilizadas.

37. Em que consiste a grandeza do homem? Para a modernidade, capitaneada por Descartes, a verdadeira grandeza do homem consiste em sua imposição sobre o mundo, senhor e possuidor da natureza. Kant, porém, discorda e identifica no ético a fonte da grandeza do homem. Mas, qual é, segundo Kant, o princípio de fundamentação do ético ou o pressuposto necessário de uma ação responsável, ética e política? A alternativa correta para essa indagação é:
a) A fundamentação da ação ética e política do homem tem na liberdade, enquanto autodeterminação, o seu princípio supremo, compreendendo-se a liberdade como uma esfera radicalmente diferente da esfera da natureza.
b) A fundamentação do ético radica-se num conceito não-teleológico do homem que busca basilar o agir humano num princípio empírico, como, por exemplo, o princípio de autoconservação.
c) A fundamentação da moralidade da natureza racional do homem dá-se teleologicamente, buscando estabelecer a causa suficiente e o fim obrigatório de toda ação humana, a partir de uma dedução da essência do homem, conhecida a priori.
d) A fundamentação da norma ética é a própria ordem essencial do mundo, que é o pano de fundo normativo das decisões concretas do homem que é, por sua vez, o guardião dessa ordem.
e) A fundamentação da moralidade encontra seus princípios nos documentos históricos da Bíblia e na experiência imediata da vontade de Deus, sendo essa a fonte primacial necessária de uma ação ética responsável.

38. "Teoricamente a cisão entre Ética e Política acaba sendo consagrada pelo refluxo individualista da Ética moderna que irá condicionar a idéia de "comunidade ética" ao postulado rigoroso da autonomia do sujeito moral tal como o definiu Kant". Considerando essa afirmação de Lima Vaz e os seus conhecimentos sobre ética e política nos pensamentos clássico e moderno, é impróprio afirmar que
a) a teoria e prática da política no mundo moderno mostram que a tese inicial dos indivíduos como partículas isoladas tem como contrapartida a concepção e a efetivação do Estado como sistema exterior de força.
b) com a identificação entre política e "técnica do poder", na aurora dos tempos modernos, acentua-se a cisão entre ética e política.
c) os filósofos contratualistas modernos, ao assumirem a ideia de comunidade ética como ponto de partida da filosofia política, viabilizam as condições teóricas de possibilidade da sociabilidade da subjetividade.
d) o problema da soberania passa a constituir-se em problema fundamental na formação dos Estados nacionais modernos e torna-se o conceito central das teorias políticas.
e) um dos problemas centrais do pensamento político moderno é o da própria constituição da sociabilidade humana, o que explica as diferentes versões da teoria do pacto de associação que surgem a partir de Hobbes.

39. Sílvio Gallo (Unicamp) lembra que "um ensino da filosofia baseado na pedagogia do conceito significaria maior investimento na problematização, isto é, na colocação do problema do que nas soluções". Apoiando-se na abordagem deleuziana da filosofia, ele conclui que experimentar problemas em filosofia significa
a) situá-lo como uma operação puramente racional que é colocada hipoteticamente e que estimula o exercício argumentativo.
b) deparar-se com uma enunciação linguística na forma interrogativa que estimula o engendramento de soluções.
c) seduzir o pensamento para um processo metodológico que, cumprindo e superando etapas, leva-o à verdade.
d) mobilizar o pensamento para criar conceitos como enfrentamento a tais problemas.
e) captá-lo como uma singularidade capaz de levar o pensamento à universalidade dos conceitos.

40. Lembra Dante Galeffi (UFBA) que "o diálogo é o caminho próprio da Filosofia como filosofar. A Filosofia nasce dialógica, quer dizer, filosofante". Mas, o que é diálogo e como considerá-lo no contexto do processo de ensino-aprendizagem? Verifique as formulações abaixo e assinale a que é coerente com as concepções de Hans-Georg Gadamer.
a) O diálogo, no contexto do ensino, trata-se de uma estratégia pedagógica ou um procedimento metodológico fundamental, para a implementação de um processo educativo filosofante.
b) O diálogo é condição ontológica do humano, é caminho de formação e de (auto)investigação do ser humano em sua abertura ontológica, buscando sempre o ressoar da diferença no encontro.
c) O diálogo é lugar conciliador dos conflitos interpessoais, conduzindo as pessoas à construção de consensos que se pautam pela razoabilidade.
d) O diálogo é caminho de deduções de princípios gerais, num processo capaz de levar, quando bem conduzido, à clarividência racional para além do pessoal e do contingente.
e) O diálogo, enquanto relação real e concreta com o outro na sua diferença, conduz ao domínio dos princípios objetivos da vida.

GABARITO:
11 B
12 A
13 C
14 E
15 B
16 D
17 D
18 A
19 C
20 A
21 E
22 B
23 E
24 B
25 C
26 A
27 D
28 B
29 D
30 C
31 A
32 E
33 B
34 D
35 E
36 C
37 A
38 C
39 D
40 B
fonte:http://www.filosofia.com.br

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"Acredito sinceramente que somos o que pensamos, o que estudamos e o que nos propusemos a ser."