domingo, 4 de março de 2012

Será que do ponto de vista da lógica a verdade é relativa?

ART. I. A VERDADE E O ERRO § (Autor Regis Jolivet)

1. A VERDADE

Ora falamos de "vinho genuíno", de "ouro verdadeiro", ora dizemos: "Este vinho é bom", "este ouro é puro", "este quadro é belo". Nos dois casos, queremos afirmar que o que é, é. E é nisto mesmo que consiste a verdade em geral.
Mas existe, contudo, uma diferença entre os dois gêneros de expressões que acabamos de citar. A primeira exprime uma verdade ontológica, a segunda uma verdade lógica.
1. A verdade ontológica exprime o ser das coisas, enquanto corresponde exatamente ao nome que se lhe dá, enquanto, por conseguinte, é conforme à idéia divina de que procede. As coisas, com efeito, são verdadeiras enquanto são conformes às idéias segundo as quais foram feitas. Conhecer esta verdade, quer dizer, conhecer as coisas tais quais são, é tarefa de nossa inteligência.
2. A verdade lógica exprime a conformidade do espírito às coisas, isto é, à verdade ontológica. Desde que eu afirme: "Este ouro é puro", enuncio uma verdade, se verdadeiramente a pureza pertence a este ouro, isto é, se meu julgamento está conforme ao que é.
Segue daí que a verdade lógica só existe no juízo, e jamais na simples apreensão. A noção "ouro puro" não exprime nem verdade nem erro. Neste exemplo, não pode existir verdade, a não ser que o espírito, afirmando uma coisa de uma outra, conheça seu ato e sua conformidade ao objeto, o que se produz unicamente no juízo.

§ 2. OS DIVERSOS ESTADOS DE ESPÍRITO EM PRESENÇA DO VERDADEIRO

31 O espírito, em relação ao verdadeiro, pode encontrar-se em quatro estados diferentes:
- o verdadeiro pode ser para ele como não existente: é o estado de ignorância;
— o verdadeiro pode aparecer-lhe como simplesmente possível: é o estado da dúvida;
— o verdadeiro pode aparecer-lhe como provável: é o estado de opinião;
- E enfim, o verdadeiro pode aparecer-lhe como evidente: é o estado de certeza.

A. A ignorância.
1. Definição. — A ignorância é um estado puramente negativo, que consiste na ausência de todo conhecimento relativo a um objeto.
2. Divisão. — A ignorância pode ser: vencível ou invencível, conforme esteja ou não em nosso poder fazê-la desaparecer; — culpável ou desculpável, conforme seja ou não nosso dever fazê-la desaparecer.

B. A dúvida.

1. Definição. — A dúvida á um estado de equilíbrio entre a afirmação e a negação, resultando daí que os motivos de afirmar contrabalançam os motivos de negar.
2. Divisão. — A dúvida pode ser:
a) Espontânea, isto é, que consiste na abstenção do espírito por falta de exame do pró e do contida.
b) Refletida, isto é, resultante dos exames das razões pró e contra.
c) Metódica, isto é, que consiste na suspensão fictícia ou real. mas sempre provisória, do assentimento a uma asserção tida até então por certa, a fim de lhe controlar o valor.
d) Universal, isto é, que consiste em considerar toda asserção como incerta. É a dúvida dos cépticos.

C. A opinião.

1. Definição. — A opinião é o estado de espírito que afirma com temor de se enganar. Contrariamente à dúvida, que é uma suspensão do juízo, a opinião consiste, pois, em afirmar, mas de tal maneira que as razões de negar não sejam eliminadas por uma certeza total. O valor da opinião depende assim da maior ou menor probabilidade das razões que fundamentam a afirmação.


Autor Regis Jolivet

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